O Espelho

Letra: Artur Soares Pereira
Música: Alfredo Marceneiro
(Fado Cuf)

Num caixote, um espelho já quebrado
Com um montão de lixo se encontrou
E, um tanto confundido e perturbado,
A sua triste história assim contou:

«Eu vivia na montra de um bazar
Aonde vi entrar, em certo dia,
Um jovem que me comprou p’ra me dar
À noiva, porque ela anos fazia.

Durante muitos anos, hora a hora,
Em mim essa senhora se mirou
E, por se ver tão bela e sedutora,
Dizia-me: “– Que achas? Que tal estou?”

Até que certo dia lhe mostrei
As rugas e o cabelo cor de neve.
Grande desilusão então lhe dei
E ela atirou-me ao chão, não se conteve.

Eis como vim a ser teu companheiro,
Enfim, tudo acabou, tudo morreu…
Quem na vida é sincero e verdadeiro

Tem, quase sempre, um fim igual ao meu.