Letra de Artur
Soares Pereira, serralheiro mecânico de profissão, chefe das oficinas de
manutenção do Hospital de S. José, a uma enfermeira que passou a chamar-lhe
poeta, depois de ouvir fados seus, e a quem ele passou a tratar por doutora,
para ver se ela desistia.
Ao
chamar-me poeta, trovador,
decerto
formulou critério errado.
Senhora:
eu sou um simples amador
e
apenas faço versos para o Fado.
O
chamar-me poeta é despertar
em
mim sonhos, quimeras, ilusões,
por
me julgar capaz, já, de ombrear
com
o vate imortal que foi Camões.
E
tal como você, uma enfermeira
que
cumpre a sua sina redentora,
decerto
considera brincadeira
quando
eu passo e a trato por Doutora.
Entre
nós, as distâncias são iguais,
pois
tanto um como o outro está distante
e
teríamos de estudar mais, muito mais,
para
atingir esse ponto culminante.
Escute,
pois, um conselho muito meu,
que
não tenho pretensões a ser profeta:
Está
tão longe de doutora, como eu
estou
longe, também, de ser poeta.