O Ardinita

Letra: João Linhares Barbosa

Oh minha mãe, minha mãe
Oh minha mãe minha amada
Quem tem uma mãe tem tudo
Quem não tem mãe, não tem nada

O ardinita, o João,
Levantou-se muito ledo
Porque tinha que estar cedo
Á porta da redacção.
Trincou um naco de pão
Que lhe soube muito bem
Antes de partir, porém
Beija a mãe adormecida
Dizendo: - Cá vou à vida,
oh minha mãe, minha mãe!

A mãe com todo o carinho
Deitou-lhe a bênção, beijou-o
E depois aconselhou-o
A ter muito juizinho.
 - Toma tento no caminho,
não fumes, não jogues nada.
 - Pode ficar descansada.
Diz ele p'rá iludir
E tornou-se a despedir
Oh minha mãe, minha amada!

Cruzou toda a Madragoa
Satisfeito a'ssobiar
Uma marcha popular
Do Santo João em Lisboa
Nisto pensou; como é boa
a minha mãe e contudo
como a engano a iludo
e lhe minto, coitadinha...
Gramo tanto essa velhinha
quem tem uma mãe tem tudo!

Neste calão repelente
Da gíria da malandragem
Existe um quê de homenagem
Nessa boquita inocente.
Parte p’ró jornal contente
Sempre d’alma levantada
E como o calão lhe agrada
Repete: - Como eu a gramo.
Tanto lhe quero, tanto a amo
quem não tem mãe, não não nada!