Maria da Luz

Letra: Artur Soares Pereira
Música: Fado Mouraria Antigo

No velho bairro de Alfama,
Em tempos que já lá vão,
Tive uma gaja da trama:
A Luz, do Castelo Picão.

A Luz era uma gaiata,
filha de um beijo qualquer.
Mais tarde foi a mulher
que eu cantei em serenata.
À luz do luar de prata,
vi o seu olhar em chama.
Com a luz que ele derrama,
o meu peito iluminei,
nessa noite em que a beijei,
no velho bairro de Alfama.

Comprei logo uma samarra,
calças à boca de sino,
cantei o Alexandrino,
acompanhado à guitarra.
Depois entrei numa farra,
quis armar-me em fanfarrão
mas fui parar à prisão
por ter naifado um rufia,
só para mostrar valentia,
em tempos que já lá vão.

Na Rua de S. Miguel,
onde a ia namorar,
foram a Luz avisar
que eu parava num bordel.
Ela fez tal aranzel
que se ouviu em toda a Alfama
mas um fadista com fama
tem que ter uma rameira.
E, na Rua da Regueira,
tive uma gaja da trama.

E quando a Luz se finou,
na Rua do Paraíso,
ia perdendo o juízo
e toda a Alfama a chorou.
Aquela que tanto amou
este fraco rufião
fez de mim um valentão
e nisso eu tenho vaidade.
Ainda choro com saudade
a Luz, do Castelo Picão.