Lição de amor

Letra: Frederico de Brito
Música: Júlio Proença
(Fado Proença)

 Perguntei o que era amor
ao meu velho professor,
por causa do verbo amar;
naquele tempo em que a gente
pergunta, inocentemente,
às vezes, por perguntar.

Aquele velhinho ouviu,
olhou pra mim e sorriu,
e respondeu-me depois:
«Amor, conheci só um:
substantivo comum,
às vezes comum de dois.»

Mostrando um desgosto acerbo,
disse que «amar, como verbo,
não é sempre regular:
é triste dizer amei;
é mau dizer amarei;
e não se diz hei-de-amar.

O verbo não é, pra todos,
igual nos tempos, nos modos
e, às vezes, por tal defeito,
põe-se uma oração de lado
porque não tem predicado
nem se conhece o sujeito.»

Só hoje é que dou valor
ao verbo que o professor
tão bem me tinha ensinado…
Pois se há quem tal verbo adore,
também há muito quem chore
por já o ter conjugado.